quinta-feira, 3 de julho de 2025

Ela subiu os degraus de volta pra si

Hoje, ela cruzou o vidro.

Do outro lado, olhos suplicavam por carinho, mas não eram só olhos felinos.

Havia ali também a ausência de quem um dia chamou de lar,

E a presença de tudo que um dia ela foi… e não quer mais ser.


Ela podia ter entrado.

O impulso era esse: voltar a ser quem cuidava, quem deixava bilhetes na ausência,

quem limpava a bagunça dos outros sem ninguém pedir.

Mas ela ficou do lado de fora.

Porque agora o limite é claro como o silêncio que lhe foi dado em troca.


Ela chorou, claro que chorou.

Mas não entrou.

E isso muda tudo.


Não importa se lá dentro está a lembrança do cheiro,

ou a bagunça que ele sempre achou que alguém limparia.

Ela já não é mais esse "alguém".

Não está mais disponível. Nem pros restos. Nem pro pouco.


Ela voltou pra casa com o coração apertado,

mas firme, como quem escreve um novo capítulo com lágrimas, mas sem regressos.

Ela não estalkeou, não procurou saber.

Ela decidiu fingir que ele não mora mais aqui.

E talvez, de fato, ele não more.

Nem naquele apartamento…

nem em lugar nenhum que mereça permanência dentro dela.


Ela sabe o que carrega:

o amor que deu, a presença que foi, o cuidado que ninguém mais vai repetir.

E se ele um dia lembrar disso, que lembre em silêncio.

Porque o tempo de buscar migalhas passou.


Hoje, ela escolheu a si mesma.

E isso, mesmo com dor, é a maior vitória.

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